Sempre vivemos separados durante a semana. O nosso amor preenchia-se em dois dias. No início era mais difícil. Segunda-feira e a despedida eram um tormento. Mas com o passar dos anos foi-se tornando mais fácil... mais tranquilo. O que importava era aproveitar ao máximo o fim-de-semana. Não existia mais nada naqueles dois dias... só nós os dois. Segunda-feira era só um dia e quanto mais cedo se passasse, mais cedo chegava sexta. Era à sexta que nos juntávamos.
No Verão íamos para o alpendre acabar o nosso jantar com umas trufas picantes e um copo de vinho tinto. Levávamos 5 trufas num prato e a última era partilhada pelos dois. Ele trincava a trufa de forma a quebrar a capa dura, percorria a ganache com os dentes e dividida-a. Com um beijo ia buscar a minha metade e assim ficávamos juntos toda a noite. Quando chegava o frio, mudávamos o nosso ritual para frente da lareira. O crepitar, o calor da lareira, o vinho e o chocolate picante aquecia-nos a alma e o corpo. Por vezes ficávamos calados a apreciar o calor. Ele pegava em mim e íamos para o quarto para nos reencontrarmos. Só acordávamos sábado à tarde de um sono repousado de tudo o que não descansámos durante a semana.
Os preparativos do reencontro começavam na quinta. Quando chegava a casa começava a preparar a ganache das trufas. Ia à caixa com as fichas de receitas. Encontrava logo a das trufas, pois era a que estava mais suja.
Ingredientes:
125 g de natas
600 g de chocolate de culinária
1 colher de chá de piri-piri
2 colheres de chá de baunilha
cacau em pó
Ferve-se as natas com o piri-piri e a baunilha.
Retira-se do fogão e adiciona-se 300 g de chocolate cortado aos pedaços.
Mistura-se até o chocolate estar derretido. Vai ao frigorífico.
Retirar do frio, quando o recheio tiver consistente, para fazer bolas.
Depois de fazer as bolas, faz-se a têmpera do restante chocolate (derreter a 45 graus e depois arrefecer a 32 graus numa bancada com a ajuda de espátulas) .
Cobrir as bolas com o chocolate derretido e com ajuda de um garfo, retirar o excesso da cobertura (bater o garfo no recipiente de forma a escorrer o excesso de chocolate).
Por fim, envolver a bola em cacau em pó num tabuleiro.
Esperar um pouco para a cobertura enrijecer e estão prontos a comer.
Apesar de já saber a receita de cor gostava de a ter sempre ao meu lado, pois foi ele que a escreveu enquanto eu a cozinhava pela primeira vez. Fazíamos muito esse ritual. Eu inventava novos pratos e ele, sentado na cozinha, ia escrevendo a receita. Para me lembrar do seu beijo provava sempre a ganache. A combinação de piri-piri e de chocolate faziam-me sempre recuar ao fim-de-semana passado.
E assim se passaram os anos. Cada um tinha o seu trabalho. Parece estranho, mas nunca quisemos alterar a nossa rotina. Cada um amava o seu trabalho e não o queria abandonar. No fim-de-semana vivíamos um para o outro. Não havia mais nada nem ninguém que nos pudesse separar.
Agora continuo o ritual das trufas picantes. Em frente à lareira relembro os momentos que passámos juntos e corto sempre a última trufa a meio. O doce e picante fazem-me relembrar o seu beijo doce e dá-me forças para continuar sabendo que um dia voltarei a estar ao seu lado.
Com esta receita participo no desafio Chocolate e Picante: Um desafio de receitas com histórias dentro.
Rita,
ResponderEliminarHá quem diga que os reencontros não seriam tão memoráveis se não existissem despedidas. Numa versão achocolatada, dir-se-ia que os reencontros seriam muito menos memoráveis sem estas trufas. ;)
Obrigada pela participação!
Um beijo*
Que estória tocante.:)
ResponderEliminarNunca experimentei fazer trufas. Acho que vou pedir esta receita emprestada.
Obrigada Suzana pelo comentário. É verdade... se não existissem despedidas os reencontros não seriam tão especiais.
ResponderEliminarObrigada Notas Soltas e Coisas Doces. Ainda bem que gostaste da estória. Experimenta estas trufas e depois diz como ficaram :)
beijinhos
rita